Curso Capoeira Mística
Você não precisa ser atleta, acrobata ou malandro, para
desfrutar os prazeres da roda de CAPOEIRA MÍSTICA, uma atividade que
resgata a manifestação espontânea, popular e comunitária da festa, do folguedo
e do folclore.
É claro que para aprender capoeira sempre é melhor
contar com a assistência direta de um bom mestre ou professor e existem ótimos.
Porém, se você não pode freqüentar academia ou não quer, faça uso das lições
práticas e teóricas que estaremos fornecendo. Porém, não se avexe em consultar
o seu médico familiar para saber até onde pode ir, porque ninguém do NUPEP se
responsabiliza por acidentes ou problemas decorrentes da sua prática. Feito
isso, reúna a família e amigos ou treine sozinho. Comece arrastando os móveis
da sala ou improvisando um espaço mais ou menos igual a uma pequena pista de
dança. Coloque um CD de músicas de capoeira para rodar e...Dance, dance e
dance, mansa, lenta ou freneticamente, mas seguindo as instruções da ginga que
oferecemos hoje. Ah, se você ainda não tem o Cd apropriado, pode adquirir um
entre os excelentes que estão a venda. É provável que você possa adquirir
também, brevemente, um que já começamos a gravar: “Brincando de jogar
capoeira”. Vamos lá? Se achar conveniente faça um quadrado no solo, com fita
adesiva colorida ou giz, como na figura 1...A medida? Ah sim! Use para a
distância de cada lado, a mesma medida que você tiver de um ombro a outro,
acrescida de mais uma terça parte.
Aula
1:
GINGA
É a posição de guarda da capoeira e serve de base para
todos os movimentos durante o jogo: para o deslocamento, defesas e ataques. É
um movimento do corpo para os lados e para trás, numa espécie de vaivém que se
configura em passos de dança, sempre no ritmo da música e do berimbau.
Para começar a treiná-la, fique em pé naturalmente e com
as pernas separadas o suficiente para manter-se confortável com os pés sobre os
pontos A e B do quadrado (1). Mantenha-se bem relaxado física e mentalmente,
joguem o peso do corpo totalmente para um lado, o direito, por exemplo,
flexionando levemente o joelho direito (2). Leve o pé esquerdo para trás, num
semi círculo, até o ponto C do quadrado, ao mesmo tempo que o braço esquerdo é
levado até a altura do rosto pra protegê-lo e ao corpo. O braço direito fica
solto, relaxado e meio flexionado ao lado do corpo, sendo levado um pouco pra
trás no balanço (figuras 3 e 4). Retorne o pé esquerdo ao ponto B, desloque o
peso do corpo para a perna esquerda flexionada (figura 5). Isto é muito
importante para provocar um deslocamento que produz uma finta interessante
quando se está lutando. Tem capoeirista que movimenta muito as pernas e braços
mas o corpo quase não se desloca, constituindo-se em um alvo fixo. Repita o
movimento anterior do lado esquerdo (figuras 6 e 7) e continue repetindo ambos
os movimentos alternados e seguidamente, colocando neles muito ritmo, balanço e
molejo. Se treinar com parceiro, procure sincronizar seu gingado com o dele,
tomando-o pelas mãos e recuando a perna esquerda quando ele afastar a direita,
como mostram os mestres Anjo, que já foi Bojão (Celso Bersi) e Wellington, nas
figuras 8 e 9. Mas, sempre lembrando: com jeito, graça e molho, muito molho.

Aula 2:
MEIA LUA DE FRENTE
E COCORINHA
Agora que você já aprendeu o movimento básico da ginga, já
poderá experimentar novas situações do jogo da capoeira.
AQUECIMENTO: Sempre é bom dedicar a primeira quarta
parte do tempo do treino ao aquecimento, para evitar dolorosas distensões
musculares e câimbras. Nele o leitor poderá fazer exercícios de alongamento, o
que é ótimo. Porém, também poderá obter resultados satisfatórios, gingando
inicialmente num ritmo lento e gradualmente dando amplitude aos passos e
movimentos dos braços, do corpo e da cabeça.
Ao gingar, leve o pé bem atrás, de modos que precise dobra um pouco mais os
joelhos e abaixar o corpo. Se você já adquiriu um Cd de capoeira, coloque numa
faixa com o ritmo de Angola, que costuma ser lento. Se não adquiriu, então
improvise, mas não deixe de dançar.
Nos minutos finais do aquecimento, passe a gingar um pouco mais rápido. Para tanto
mude de música. Use uma faixa de São Bento Grande e procure “inventar” durante
a ginga, mas sem perder o ritmo, o molho, a malandragem. Pare de repente, com
os pés unidos, faça um pião, dê pulinhos com os pés juntos, para frente, lados
e para trás... Ria. Alegre-se com o quem puder fazer. Seu parceiro de treino
deverá inventar também e ambos devem procurar “afinar”, na dança, uma parceria
que nada mais é do que uma deliciosa cumplicidade lúdica.
A MEIA LUA DE FRENTE: Também deve ser praticada na
seqüência da ginga. Se você não tem parceiro para treinar não se preocupe. Com
um sorriso de pura malícia convide uma cadeira para ser sua parceira. Em certos
casos ela será a melhor companhia, porque não quer ser MELHOR do que você e por
isso não o atingirá traiçoeiramente ou “sem querer”, nem ser tornará violenta
ou o deixará na mão. Faça o movimento demonstrado pelo contra-mestre Anjo sobre
a cadeira, o com o parceiro caindo em cocorinha, conforme mostram os dois
contra-mestres na foto.
A COCORINHA: É o desvio que pode ser visto na demonstração
do contra-mestre Wellington, na figura 5. É um movimento de esquiva frente a
ataque vindo do alto, visando atingir lateralmente a cabeça ou a face. Você
ginga e abaixa-se, deixando-se cair na posição conhecida como de cócoras e com
o braço levantado protegendo a cabeça, do lado onde supõe que o golpe venha.
Faça cocorinha algumas vezes, sem forçar nada. Vá devagar,
mas vá sempre. Movimento correto é sempre aquele que você pode fazer
descontraído em um dado momento. Não tenha pressa...
Com o parceiro, a ginga deve ser sincronizada, e quando você tiver o pé direito
ligeiramente recuado, eleve-o numa curva ascendente que se completa num
semi-círculo e vai até a frente da outra perna e retorna ao ponto de origem.
Faça o mesmo do outro lado, enquanto o parceiro faz cocorinha. Ao abaixar-se,
não perca o outro de vista e levante-se rapidamente, assim que o pé dele
passar. Repitam os movimentos revezando as posições e com cuidado para não se
machucar.
Ah! Antes que me esqueça, se você tem dificuldade de levantar a perna, ao
invés de uma cadeira use um balde ou um tijolo. Se não puder descer na
cocorinha, balance o corpo e dobre as pernas. Tudo o que importa na CAPOEIRA
MÍSTICA é que você FAÇA ALGO JUNTO co outros, se movimento e divirta-se
com parceiros, amigos e familiares. Seja qual for o seu estado físico, saiba
que se estiver movendo-se com amigos queridos, terá sempre uma melhora gradual
e sensível na capacidade de se mover, com o tempo.

Aula
3:
BÊNÇÃO
Você já
aprendeu a realizar um breve aquecimento com os movimentos básicos da ginga, e
a realizar a meia lua de frente e a cocorinha. Agora, iremos incluir no
repertório dos golpes a BÊNÇÃO. É uma espécie de pisão desferido na altura da
linha de cintura ou tórax, do companheiro, que quando o pega desprevenido
derruba-o. Se você tiver uma cadeira, um balde ou um tijolo, como companhia
para treinar, deve realizar este movimento por cima desses objetos. Se tiver um
parceiro, “ao vivo”, ao gingar com ele dê a benção enquanto ele simplesmente
afasta-se na ginga. Mais tarde teremos outras alternativas. Os desenhos acima
falam por si. Estude-os atentamente e pratique revezando o “ataque” e a
“esquiva afastada” com o companheiro. Gingue bastante, dance enquanto realiza
os movimentos e não esqueça de divertir-se bastante, do contrário o treino não
tem graça, não é?

Aula
4:
NEGATIVA DEFENSIVA
Suponho que o leitor já tenha aprendido a se aquecer, a gingar, a meia-lua de
frente, a cocorinha e a benção. Hoje aprenderá a esquivar-se um ataque vindo
pelo alto executando a negativa defensiva. Se o leitor tiver companheiro de
treino, deve começar a treinar com ele o aprendido até agora, na seqüência e
sem interrupção:
a) ambos gingam;
b) um faz a meia-lua de frente e o outro desce na cocorinha;
c) ambos voltam a gingar e revezam os movimentos;
d) gingam de novo;
e) um faz a bênção e o outro.., vai aprender a sair na negativa.

Viram? Já estão Jogando um pouco de capoeira! Continuem
aprendendo e treinando que em breve iremos combinar o batismo de vocês numa
roda de capoeira Mística. Ah, se o leitor não tiver parceiro, não ligue. Jogue
com a cadeira, com o balde ou com o tijolo, usando a Imaginação e como se jogasse
com alguém. Com o parceiro siga os desenhos realizando tudo muito lentamente.
Ambos só deverão aumentar a velocidade quando tiverem dominado um sincronismo
seguro.
1) Quando o outro avança a perna direita, para aplicar uma
benção com a esquerda, você pressentido o que vem, recua levando o pé direito
para trás e protegendo o rosto como braço direito: (2 e 3) Deixe o corpo
pender para o lado esquerdo. até apoiar a palma da mão no solo e sentar-se
sobre o calcanhar direito, mantendo a perna esquerda estendida. Tenha o cuidado
de não deixar o polegar em oposição à palma da mão e sim ao lado do dedo
indicador, para não lesioná-lo e mantenha o corpo inclinado para a frente, em
típica negativa da capoeira Regional. 4) Comece a levantar-se puxando o
calcanhar do pé esquerdo para perto do corpo e apoiando-se nele, passe a perna
direita sobre ele e vire o corpo pare o lado esquerdo; 5) Apóie a mão
direita no solo, à sua frente e levante o quadril, olhando o outro por baixo e
entre as próprias pernas. Esta posição, embora considerada suspeita pelos
machões, é ponto de partida para vários golpes traumatizantes e
desequilibrantes, Por ora, levante-se! adote a postura inicial e volte a
gingar. Pratique bem toda seqüência e até outra vez,
PARTE
TEÓRICA
Já vimos
que, se não queremos apenas repetir o que outros dizem, observamos a roda de
capoeira e analisamos com cuidado o que vemos, para entender o que é essa
manifestação popular, de origem afro-brasileira. Na aula passada, verificamos
que diante de uma roda de capoeira vimos varias pessoas postadas em círculo,
batendo palmas, cantando em resposta ao “puxador canto”, tocadores de berimbau,
atabaque, pandeiro ou outros instrumentos. Dois outros, realizam movimentos no
centro da “roda”, que SIMULAM uma luta, pois evitam acertar os pés e as mãos no
outro. Após vários dos presentes se revezarem no interior da roda, cantarem,
tocarem e brincarem, se vão embora, Não há contagem de pontos, ninguém tem o
braço levantado ou é declarado vencedor. Aliás, no fim de tudo parece que todos
ganham. Se várias pessoas integram esse folguedo, não podemos dizer que
capoeira é só uma dança ou urna luta de dois, pois isso indicaria pouca VISÃO
ou DESPREZO pelo coletivo, além de SURDEZ para o canto, toques de instrumentos,
coro e risos,,, O que é, então, capoeira?
VEJA... se não somos papagaios e dizemos querer resgatar
as raízes da autêntica capoeira, devemos também observar os DOCUMENTOS
HISTÓRICOS e os documentários sobre os negros africanos, que foram escravizados
e trazidos para o Brasil Colonial. Neles, verificamos que semelhantes aos
indígenas brasileiros, praticavam RITUAIS, entendidos como encenações
individuais ou COLETIVAS, destinadas a atrair chuva. a apaziguar divindades, a
atrair proteção de entidades místicas para as guerras contra outras tribos, ou
até para rememorar combates em que a tribo saiu vitoriosa ou perdeu... Um
RITUAL é conjunto de práticas que revestem de cultura os esquemas instintivos
“herdados” dos ancestrais. Alguns psicólogos e filósofos chamam a estrutura dos
rituais de arché ou arquétipo, mas é, em última análise, uma estrutura mais
ampla de funcionamento das coisas naturais. Então, nos rituais coletivos é
comum às pessoas se colocarem em círculo pala se observarem, enquanto dialogam,
fazem refeições, festejam, comemoram e dançam, para a guerra e SIMULANDO
combates com o inimigo de FORA da tribo... Este é um aspecto muito
significativo do ritual coletivo, que normalmente possui a função INTEGRADORA e
aglutinadora de TODOS os membros da tribo... Ora, se a primitiva capoeira
começou com a função do ritual. de aglutinar, sociabilizar e amparar indivíduos
de uma mesma tribo... cor, ou que padeciam de idêntica opressão, a quem
interessaria DIVIDI-LA em pedaços, passá-la como luta e relegar ao
DESPREZO a prática cultural e aglutinadora do negro?
Bom, novas reflexões ficam para outra vez...É bom dar tratos à bola, pensar e
pensar para argumentar a favor ou contra o que expusemos, sem IGNORAR também
que pesquisar e estudar são atividades muito importantes! Não para repetIr o
que outros dizem, porque não somos papagaios nem “Maria vai com as outras”, mas
para aprender com quem expõe idéias razoáveis e para verificar se os
documentos, realmente, confirmam ou negam a tese que levantamos, após observar
e analisar o que vimos.
Aula 5:
MEIA-LUA DE COMPASSO
Depois do aquecimento obtido com a prática dos movimentos
anteriores o leitor fará a Meia-Lua de Compasso assim:

a) Ao gingar, gire ambos os braços para a sua direita, direcionando as palmas
das mãos para um ponto do solo atrás de você (figuras 1,2,3,);
b) Procurando manter o movimento "redondinho" e contínuo mova o pé
esquerdo um pouco para frente (figura 3) e apoiando as palmas das
mãos no solo termine de costas para o "oponente", como na figura 4
(esta posição é a mesma que você assumiu ao levantar da negativa, da figura 6
da aula passada, lembra?);
c) Em movimento continuado, decorrente do impulso dado pelo giro dos braços e
do tronco no início, a perna direita levanta e gira no ar com o calcanhar
direcionado à orelha direita do companheiro (figuras 5,6,7). É evidente que ele
evitará o desgosto da pancada levantando o braço direito para proteger o rosto,
mas descendo a mão esquerda para o solo na saída em negativa já aprendida;
d) Termine o movimento em pé e gingando (figura 8).
Recomendações adicionais: É importante que no movimento giratório não se perca
de vista o parceiro momento algum. A meia-lua de compasso deve ser aplicada dos
dois lados e muitas vezes, para que se torne movimento rápido e vigoroso. Se
tiver parceiro prossiga com ele, se não tiver, já dissemos, use uma simpática
cadeira, um vaso de flores ou um pinico, mas treine fazendo aquilo que você
pode.
LEMBRE-SE que na capoeira Mística busca-se a superação dos próprios limites e
fazer amigos, não ser melhor que outros.
Por outro lado, quando levantar da negativa e estiver naquela posição da figura
6 passada e figura 4 atual, que dizem ser a de "Napoleão quando perdeu a
guerra", tente dar continuidade com a meia-lua... Seu companheiro deve
esquivar-se com uma cocorinha ou negativa. Vão dançando e girando com um
sorriso malandro, mas soltando golpes firmes, sempre em continuidade e com
cuidado, zelando pela integridade física e moral do outro e de si mesmo. Ah! Se
não tiver o companheiro zele pela integridade própria e da cadeira, do vaso de
flores e do... Fique com meu abraço carinhoso.
Aula
6:
RASTEIRA e AÚ
Após aquecimento realizado com as técnicas anteriores, o aluno irá executar a
rasteira, como movimento ofensivo e o aú, como defesa da rasteira.

Rasteira – Trata-se de um golpe desequilibrante, que tanto
serve para ataque ou contra-ataque, e é desferido com a finalidade de arrastar
o pé de apoio do “oponente”, quando ele desfere a bênção, a armada, o
martelo... A) Ela pode ser dada a partir da cocorinha ensinada na aula 2. Mas,
da posição em pé, deixe-se inclinar para o lado e levemente para trás, até
colocar a palma da mão esquerda no solo, assumindo a posição da figura B. Ao
mesmo tempo que apóia também a mão direita no chão, como na figura C, lance a
perna direita em movimento circular e “enganchando” a perna do parceiro, um
pouco acima do calcanhar, puxe firme até derruba-lo, em movimento como em D e
E. Em seguida volte para a posição A, passando pela posição E; a do Napoleão já
conhecida do leitor (Sem maldade. Só me refiro ao treino das figuras 4 da aula
5, e 6 da aula 4). Ah! Em tempo. Antes que o aluno domine a técnica de encaixar
o pé no tornozelo do outro, não deve ser desferida contra a cadeira para não se
machucar. Depois de praticar suavemente com um amigo e dominar o movimento,
porém, pode treinar contra a perna da cadeira e derrubá-la. Contra o penico,
que não tem pernas, nem pensar!
Aú – É movimento usado para aproximação, fuga ou exibição de perícia
acrobática, sendo conhecido dos ginastas por “roda” ou “estrela”. Na capoeira é
feito de forma lenta ou rápida, mas sempre descontraída e com as pernas em
diferentes posições, de acordo com o momento do jogo. No “aú fechado, p.ex., o
capoeirista gira com as pernas encolhidas e os joelhos protegendo o abdômen e
no “aú aberto”, para exibição, as pernas são bem esticadas e abertas. Se
encontrar dificuldade, comece colocando a mão esquerda no chão e ao lado do
corpo, a mão direita mais à frente, e ao invés de jogar as pernas para o alto,
simule o salto da altura que puder. Lembre-se que a meta é a superação gradual
das próprias limitações físicas e sendo isto possível ou não, sempre se pode
ultrapassar limites mentais, sentimentais, intelectuais, espirituais... Sendo
assim, jogar capoeira é como raciocinar. Depois que aprendemos poucos elementos
básicos ou princípios, podemos nos arrojar mais longe com relativa segurança. A
figura H mostra o aú enquanto movimento defensivo da rasteira. Os dois
movimentos devem partir da ginga com muito molho e praticados dos dois lados.
PARTE
TEÓRICA
Exercício para a cabeça... O aprendiz deve ler e tentar
discutir com outras pessoas o texto CULTURA AFRA E
CAPOEIRA até COMPREENDÊ-LO. Até a próxima.
Aula
7:
QUEIXADA e ARMADA

Queixada - O aluno ginga e quando chega na posição da
figura A, muda o pé direito como na figura b, passando-o na frente do corpo.
Aí, impulsiona os ombros, o braço e todo o lado direito do corpo, como se
quisesse voltar para a posição da figura A, começando um giro rápido pelos
ombros, e cujo impulso deve fazer o pé direito abandonar o solo e subir,
realizando um arco em frente ao corpo. É claro que o aluno deverá dar
velocidade e força ao giro da perna, para que este golpe traumatizante “acerte”
o queixo do parceiro com o lado externo do pé, (se ele estiver dormindo e não
se esquivar). Para começar, faça o pé passar sobre um penico ou tijolo,
progrida até passar sobre a guarda de uma cadeira, e depois... Quem sabe? O
final do golpe é na posição inicial.
Armada – Gingue e como se fosse dar a queixada, avance um
pouco mais o pé direito, até dar as costas para o parceiro, mas sem perdê-lo de
vista nem um instante. Em movimento contínuo, dê um giro de corpo completo nos
ombros para o lado esquerdo e como se quisesse voltar à posição A, de tal forma
que o giro o ajude a tirar o pé esquerdo do solo. Levante-o na altura do rosto
do parceiro até descê-lo e termine a volta ao lado do outro. No início o
aprendiz terá um pouco de dificuldade para manter o equilíbrio, mas a prática
regular leva ao aprimoramento.
PARTE
TEÓRICA
Exercício para a cabeça... O aprendiz deve adquirir
disciplina para ler e o texto da História da Capoeira em Sorocaba. Leia-o
tantas vezes quantas forem necessárias. Não tenha pressa. Lembre-se que precisa
aprender a compreender o que lê.
Aula
8:
O BERIMBAU NA CAPOEIRA
O historiador sério é pessoa preocupada em trazer a lume
fatos do passado, através da exposição pura e simples ou narrativas. Para
tanto, deve pesquisar e estudar no presente os resíduos materiais do pretérito,
para que as informações a eles relacionados sejam situadas no tempo e no espaço
em que os fatos ocorreram. Deve haver muito rigor e o máximo de precisão nesta
tarefa, porque a História é uma ciência que exige comprovação da verdade
daquilo que se afirma. Qualquer dedução, inferência, hipótese ou teoria, deve
derivar dos resíduos ou provas materiais. Sem estas não há História. Resíduos
materiais são documentos escritos, fotos, pedras esculpidas, pinturas,
ferramentas e utensílios etc., que no passado fizeram parte de um contexto de
acontecimentos envolvendo seres, outros objetos e situações. Como conseqüência,
a dedução ou inferência do historiador a respeito dessas partes deve ser
coerente com o contexto histórico desses outros seres, objetos e situações,
para adquirir sentido e credibilidade. Desvinculada do contexto não há dedução
ou inferência, apenas acho. Lamentavelmente, alegando que a Historia existente
foi documentada pelos “vencedores” ou pela elite de um povo, há lunáticos que
em vez de apresentar provas consistentes da história do povo “vencido”,
desprezam rigores científicos e partem para a “achologia” e desvarios que
apresentam o povo, além de “vencido”, falso, mentiroso. Pois bem, resíduos
importantes para o entendimento da capoeira no passado são duas gravuras do
pintor alemão, Johann Moritz Rugendas (1802-1858), uma das quais, de 1834 e
denominada jogar capoeira ou danse de la guerre, talvez seja o mais antigo
documento disponível sobre a capoeira. Nele, o capoeirista experiente pode
identificar a “ginga invertida”, a marcação do ritmo por palmas e no tambor.
Entre os que estão em volta dos que gingam, “na roda”, há os que dançam. Os
princípios básicos que nos permitem identificar e distinguir a capoeira do
batuque, do samba, da pernada e de outros folguedos afro-brasileiros, como
veremos na próxima edição, já se encontram, bem presentes e visíveis nessa
pintura, que também estaremos publicando na próxima edição, para análise. Outro
fato notável na pintura é a ausência do berimbau, que foi incorporado bem mais
tarde no conjunto rítmico. O berimbau apareceu em gravuras da mesma época e em
relatos ligado a vendedores ambulantes, que o tocavam para atrair fregueses, e
até agora, apesar de existirem muitos achos a respeito, ninguém sabe informar
ao certo, quando ele foi vinculado ao jogo de capoeira, para assumir a regência
do canto e dos movimentos gerais e do jogo.
TOQUE BERIMBAU
O berimbau é um instrumento fácil de ser tocado... mal ou
não muito bem. Difícil é tocá-lo com a maestria de certos mestres e músicos.
Todavia, sabendo que sempre existirão tocadores exímios e outros nem tanto,
devemos tentar aprender fazendo o que podemos. Podemos não fazer muito, mas se
não tentarmos certamente não faremos nada. Sendo assim, deixemos de nos
preocupar com a competição com aqueles que podem tocar melhor do que nós e
tentemos superar a nós mesmos, tocando mais do que nada, e procurando melhorar
a cada dia o pouco que conquistarmos. O caríssimo amigo e ex-aluno Tudoeira e
de Capoeira, o João Carlos do Amaral, lamentou no Informativo número 10, não
ter aprendido a tocar, apesar de haver comprado um belo berimbau em sua
lua-de-mel na Bahia, em 1971. Pois bem, já pode aprender. Vamos lá amigaço!
Para
começar, conheça as partes do berimbau e como segurá-lo observando o desenho.

1 – Partes do Berimbau.
a) Verga: é o arco de madeira. Nos berimbaus de melhor
qualidade é de “biriba”, um pau encontrado na Bahia e em alguns outros Estados
do Nordeste.
b) Arame: é de aço e muitas vezes retirado de pneus de automóveis.
c) Cabaça: é fixada na verga por um barbante para dar ressonância.
d) Dobrão: antigamente era uma moeda de cobre, hoje pode ser uma arruela de
metal ou pedra. e) Caxixi ou cariri: chocalho de palha ou vime com sementes
dentro.
f) Vareta ou vaqueta: de madeira. É usada para bater no arame.
g) Cavalete: barbante que prende a cabaça.
2 – Berimbaus usados na Capoeira
a) Gunga ou Berra Boi: é o de maior cabaça. Seu som é grave e a ele cabe mandar
no ritmo do jogo
b) Médio: a cabaça é média e normalmente seu toque é inverso ao do Gunga.
c) Viola: cabaça pequena. Tem som agudo e é usado no improviso.
3 – Como fazer o toque de Angola
O aluno logo irá perceber que pode “afinar” o Berimbau, ou mudar sua
tonalidade, modificando a altura do cavalete de barbante. O toque de Angola
costuma ser usado para o acompanhamento da Ladainha, canto introdutório ao jogo
e que permite a concentração de todos no início da “função”. Esse toque mais o
canto permite uma espécie de oração evocativa de proteção energética ou
espiritual. Em geral tem ritmo lento e depois que ocorre o “canto de entrada”,
convidando os jogadores a dar a volta ao mundo, comanda um jogo lento e bem
rente ao chão. Manhoso, cheio de truques e mandinga, molho e charme, os
capoeiristas jogam muito próximos, no chamado “jogo de dentro”.
Recomendo que o aluno procure ouvir e baixar a lição exemplo, contendo esse
toque e o canto de ladainha. É de graça!
Mestres como o estupendo Bola Sete e músicos ligados à Capoeira desenvolveram
métodos para ensinar berimbau, pandeiro, atabaque etc., dispensando
conhecimentos de teoria musical. Mestres Brasília e Déo Lembá usam um esquema
apropriado aos instrumentos de percussão, indicando o som e o tempo em uma
pauta de apenas uma linha. A nota grave é indicada abaixo da linha e a aguda
acima, onde é mostrado também o toque do caxixi . Eles tentam orientar o aluno
totalmente leigo em música, principalmente pela escrita que representa o som
onomatopéico. Aqui usamos um método que pode ser considerado combinação dos
desses três grandes mestres.

A representação dos sons.
1 – O som tich é chamado “arranhado” e é tirado encostando-se a “boca da
cabaça” na barriga para abafar totalmente o som, enquanto percute-se o arame
mantendo o dobrão encostado nele de modo folgado, frouxo.
2 – O som tom é tirado com a percussão (batida da vareta no arame) com a “boca
da cabaça” livre, afastada da barriga e sem encostar o dobrão no arame.
3 – O som tim se consegue fazendo a percussão com a “boca da cabaça afastada da
barriga, e com o dobrão encostado firmemente no arame” Tocando Angola já. O
querido aluno deve pegar o Berimbau e “bater nele” para tirar o seguinte som:
tich-tich, tom, tim, um ruído do caxixí, tich-tich, tom, tim, um ruído do
caxixí... E vai repetindo até o dedo mindinho doer demais ou a mão não
agüentar, ou os familiares e os vizinhos começarem a protestar.
Esse é um toque básico. Depois de dominá-lo você vai aprender a enfeitá-lo.
Tchau e bom divertimento.
Aula 9
PARTE TEÓRICA
Folclore e Cultura Afro Brasileira
Clique aqui e
leia o texto Folclore e Cultura Afro Brasileira (O que é Pernada?)
PARAFUSO

Com o “parafuso” o capoeirista visa atingir o rosto do
oponente com o peito do pé que gira em segundo lugar. Nas figuras 1, 2, e 3 o
aluno tem uma repetição da “armada”, ensinada no Informativo n. 16. O movimento
do parafuso se inicia com ela, só que muito mais rápido e com maior impulsão
focalizada na perna que a princípio ficaria no solo. Neste golpe ela
serve de “mola” para um pulo que faz o movimento acontecer praticamente no ar.
Ver figuras 4, 5 e 6.
Aula 10
PARTE
TEÓRICA
As bobagens sobre capoeira.
Muita bobagem
tem sido falada e escrita sobre Capoeira ao longo dos séculos 19 e 20, e se não
tomarmos nenhuma providência para melhorar o nível dos conhecimentos sobre o
tema, continuaremos, pelo século 21 afora, ouvindo e lendo repetições dessas
bobagens.
O problema,
aqui, certamente, não é a pessoa falar ou escrever bobagens por ser IGNORANTE
no assunto, mas o alastramento da IGNORÂNCIA a nível intolerável, em lugar da
propagação de conhecimentos mais corretos e sadios.
Dia destes, por
exemplo, encontrei um escritor considerado importante, por ser ligado a órgãos
aglutinadores de historiadores e de intelectuais da cidade. Perguntei a ele,
tão delicadamente quanto conseguiria, como ele, sendo pesquisador de nossa
história, foi capaz de avalizar, com o seu nome, uma obra que afirma, sem prova
documental alguma, ter existido capoeira na cidade de Sorocaba antes de 1969. E
ele, muito embaraçado, respondeu gaguejando: “Bem, antigamente chamavam a briga
de capoeira, e brigava-se muito na cidade...”. A princípio me indignei
por ouvir tão grande barbaridade, mas, procurei me acalmar e entender, que
afinal, ele fazia o melhor que podia, para justificar a inverdade que apoiou,
“entrando de gaiato”. Aliás, o principal recurso usado pelos que originalmente
disseminaram tais inverdades pela cidade, foi justamente o de CHAMAR briga de
casal, crimes, o uso de patuá, de pernas e de navalha, entre outras coisas, de
“capoeira”, para JUSTIFICAR as afirmações levianas feitas anteriormente. Ora,
diante da obstinada insistência no erro, nada mais havia para se falar...
Observe, caro
leitor, que esse escritor, ao ser questionado por mim, precisaria ter grandeza
MORAL para apresentar a humildade do verdadeiro intelectual e admitir que
errou. Não teve. E, consciente ou inconscientemente, tentou tornar “lícita” uma
inverdade, dizendo que briga era chamada de capoeira, mas se contradizendo,
porque ao mesmo tempo sustenta que não é. Ou seja, ele disse, em outras
palavras, que antigamente CHAMAVAM a briga, de capoeira. Independente do fato
de eu nunca ter ouvido semelhante estultice de capoeiristas ou dos briguentos
que conheci, percebamos que ele diz, que antigamente usava-se o NOME “capoeira”
para designar a briga de rua.
Bom, é verdade
que quem não é capaz de distinguir a capoeira de uma briga pode revelar sua
IGNORÂNCIA de muitos modos, inclusive pela palavra escrita e falada. Mas, o meu
interlocutor, sem dúvida, é “intelectual” o suficiente para saber, que o
sujeito casado com um canhão de mulher, poderá chamá-la de “Sandra Bullock” o
quanto quiser, que não terá essa atriz de cinema ao seu lado, na cama, quando
for deitar para dormir... Ele sabe, também, que chamar seu gatinho de “Leão”
não o transformará na fera com esse NOME. Então, sabendo que o canhão do seu
lado não vira a Sandra Bullock, nem o seu gato um leão, só por receberem NOMES
da atriz e do “rei das selvas”, deveria saber também, que briga nunca foi
capoeira. Do ponto de vista racional, por outro lado, deveria saber também, que
quem insiste em JUSTIFICAR mentira anterior tem de mentir mais...
Perguntei-me várias vezes: que tipo de interesse pode
ser maior do que a VERDADE para um historiador que nos próprios trabalhos tem
sido tão sério? Jogo de influências? Corporativismo? As trinta moedas? Não
CRENDO que essa pessoa tenha agido por interesse, preferi CRER que sua
IGNORÂNCIA, quanto ao assunto sobre o qual se atreve a opinar, é realmente
sincera. Então, decidi esclarecer algo sobre a matéria.
Quando alguém
está brigando tem raiva, ódio ou muito MEDO e realiza atividades ofensivas e
defensivas coerentes com o OBJETIVO da briga; isto é, o de evitar ser
nocauteado, ferido ou morto. Para tanto usa tudo o que pode e é capaz,
preferindo, se possível, que seja o outro a desmaiar, a sair ferido ou morto.
Se um dos briguentos pratica alguma modalidade de luta, certamente irá usar as
técnicas que puder, enquanto briga. Se o outro pratica a mesma modalidade de
arte marcial que ele, faz o mesmo, e ainda assim, ambos estarão brigando.
Se alguém
já estiver pensando em JUSTIFICAR a bobagem dita, agora usando a palavra
“luta”, deve entender que ela tem significado muito abrangente e apenas por si
não esclarece nada. Pode-se usar o termo “luta” para indicar qualquer tipo de
conflito, inclusive o de idéias, além da própria briga. Em esporte a palavra
pode pressupor confronto de treinamento ou de campeonatos, e em qualquer dos
casos com regras combinadas e limitações na aplicação dos golpes, com tempo
determinado de duração e intervalos fixados, regulamentos sobre pesos e
categorias, um ou mais juízes fiscalizando se não há golpes baixos ou
proibidos... E numa briga, meu caro, como se dizia antigamente: “quem pode mais
chora menos”. Não há regras e nem limites impedindo golpes baixos ou altos...
Numa
briga, o sujeito pode ser “bom de briga” por usar golpes de capoeira, e outro,
por usar força descomunal. Se eles se enfrentarem, ainda que numa luta de
Vale-tudo, nunca teremos um jogo de capoeira. Sabe por quê? Para ter um jogo de
capoeira é preciso dois capoeiristas voltados ao mesmo fim específico de jogar
capoeira. Para me entender melhor, pense num sujeito que realiza a prática de
dentista. Pensou? Podemos dizer que ele é dentista quando está no exercício da
profissão, mas quando está brigando e extrai um dente do seu adversário com um
soco, não está praticando a odontologia. Certo? Numa briga o sujeito não é
dentista. É briguento.
Agora, procure
assistir a um jogo de capoeira. Verifique que dois ficam de cócoras na frente
do tocador de berimbau, se benzem, cantam, e depois de autorizados, saem dando
golpes manhosos de pés, mãos, cotovelos, joelhos e cabeça, sem a intenção clara
de ferir ou atingir o outro. Perceba que um deles até que poderia chutar o
rosto do outro em certo momento, pois tem a oportunidade, mas não o faz. Apenas
ameaça, sorri de modo brejeiro e vai para “uma parada de mão” ou sai no Aú.
Depois de um tempo, ambos se abraçam, trocam de parceiros e continuam dando
voltas ao mundo, às vezes por horas e horas seguidas, cantando, rindo, se
exercitando, felizes da vida. Isto é briga? Não. É jogo de capoeira. Se dois
capoeiristas não se gostam e resolvem brigar, ainda que na roda, deixam de
jogar capoeira e passam a brigar. Agora vale tudo entre eles, e quem pode mais,
aí, não canta nem dança, chora menos. Certo? Se decidirem lutar capoeira, fazer
um jogo duro, poderão agir com maior contundência, só que agora, submetidos às
REGRAS que definem especificamente a CAPOEIRA. Se ambos forem para o solo, por
exemplo, e alguém der socos, dentadas, arm-locks ou guilhotinas, já estará
muito afastado da capoeira. Estará brigando, ou chamando de capoeira a alguma
moda inventada recentemente, mas que NADA tem a ver com a tradicional, a
legítima, a autêntica capoeira que nos foi legada pelos grandes mestres. Certo?

Martelo - Com o “martelo” o capoeirista procura atingir
costelas e cabeça do oponente, com o peito do pé, pela lateral.
O movimento se inicia na posição ilustrada na figura 1, e
a seguir, o joelho é levantado conforme a figura 2, e se gira o quadril. Em
movimento continuo, inclina-se o corpo ligeiramente para trás estendendo-se a
perna rapidamente, na direção da cabeça ou das costelas do outro (figura 3). É
importante recuar a perna, rápido, para evitar que ela seja aprisionada.
Macaco – Com o “macaco” o capoeirista se desloca de um
lado para outro com elegância e elasticidade.
Sente-se na posição de cócoras e ponha a mão esquerda no
solo atrás de você, abaixo das nádegas (figura 1). Estique agora a mão direita
na sua frente e projete-a à frente e para trás, por sobre a cabeça, dirigida
para trás dela. Acompanhe a mão com os olhos, enquanto impulsiona com as pernas
para jogar vigorosamente o quadril para cima e na direção da mão projetada
(figura 2). Se o movimento for coordenado e o impulso for bom, você irá
girar o corpo sobre as mãos e descer com as pernas juntas no solo (figuras 3 e
4).
Alerta! É sempre prudente praticar exercícios físicos com
o máximo de cuidado, assessorado por médico e professor competente. Nem eu nem
ninguém daqui do Nupep irá se responsabilizar por danos sofridos em decorrência
da má aplicação da técnica aqui demonstrada.
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